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Técnico do União conta sobre Copa do Mundo e acesso a elite ucraniana

Gilmar Tadeu da Silva chega com o propósito de levar o grupo mogiano para a Turquia. Técnico tem contrato com vigência de três meses

Por Mogi das Cruzes, SP

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Gilmar Tadeu da Silva, Gil, União Mogi (Foto: Thiago Fidelix)Gilmar vestiu a camisa de número 9 quando jogou
no União Mogi (Foto: Thiago Fidelix)

O União Mogi vai incluir um capítulo importante na história do clube: a primeira excursão internacional em 100 anos. Esse passo só será dado devido ao passado da equipe. Em 1995 o Alvirrubro ganhou o respeito de um atacante, de 29 anos, conhecido como Gil, que defendeu as cores da agremiação por três temporadas.

Após 16 anos, o então camisa 9 assumiu a função de técnico do time. Gilmar Tadeu da Silva, o Gil, chegou com o propósito de levar o grupo mogiano para a Turquia. O contrato tem vigência de três meses, período de preparação e viagem para o velho continente, que será feita entre 4 de janeiro e 12 de fevereiro para uma série de sete amistosos. Sem pensar no Campeonato Paulista da Segunda Divisão, que deve começar em abril, a ideia no momento é trazer prestigio a uma imagem tão desgastada quando a dos unionistas pelos problemas enfrentados nos últimos anos.

- Depois de muito tempo eu vesti a camisa do União. Confesso que caiu bem. Era a mesma, a 9. Deu saudades, sempre dá. Lembro muito daquele grupo, era uma família. Morávamos na Rua Casarejos, no centro de treinamento. Fiquei sabendo que não tem mais o campo, prefiro não passar por lá. Tinha promessas que iriam construir um baita Centro de Treinamento e nada aconteceu. Quero retribuir o que tive - revelou Gil.

Gil União Mogi técnico (Foto: Thiago Fidelix)Pela primeira vez em 16 anos Gilmar veste a camisa
Alvirrubra (Foto: Thiago Fidelix)

Servir de exemplo aos jogadores e mostrar que é possível para os dirigentes. Esse é o plano. Gilmar teve uma infância pobre na zona norte de São Paulo e no futebol ele encontrou o caminho para construir a vida. O jogador passou por várias equipes: Portuguesa, União Mogi, Corinthians de Presidente Prudente, Francana e Inter de Lages. Com passagens pelo futebol de Portugal, China, Singapura, Índia e Brunei Darussalam, como jogador ele conheceu diversas filosofias de trabalho até encerrar a carreira em 2003.

Após cinco anos, em 2008, o atacante conheceu o projeto Bilu em Caieiras. No interior de São Paulo, ele fez um curso preparatório para treinadores e o ex-jogador iniciou suas atividades como técnico. No projeto ele treinou crianças dos 7 ao 16 anos. O divisor de águas foi a Copa do Mundo de 2012, realizada na África do Sul. A organização dos jogos convidou o projeto de Caieiras para participar de algumas partidas preliminares das disputas entre as seleções. Invicto nos jogos da Copa, o feito chamou a atenção e reconhecimento do projeto. O técnico Gilmar foi convidado para trabalhar nas categorias de base do Metalurg Zaporizhzhaya, da Ucrânia

- Sem querer fomos campeões invictos. Isso repercutir na imprensa do mundo inteiro e de certa forma chamou a atenção. Com isso, chegou o convite ao projeto e fui indicado.

Idioma, clima e cultura se tornaram barreiras que pareciam ser intransponíveis na Ucrânia. Mas nenhuma dessas dificuldades foram tão duras quanto a do racismo, mal que acompanha os afrodescendentes na Europa.

- Eu tinha que fazer a diferença. Estava em um dos países mais racistas do mundo. Ficar em um lugar onde eles odeiam negro é complicado. É ridículo falar isso, mas é notório, não dá para esconder. Nas primeiras semanas eu queria voltar. Chorava muito. Resisti e levantei a cabeça.

Treino União Mogi (Foto: Thiago Fidelix)Equipe treina para excursão para Turquia (Foto: Thiago Fidelix)

O preconceito foi um obstáculo, mas não um limitador. Após seis meses trabalhando com a base da equipe ucraniana, Gilmar foi convidado para uma conversa com os diretores. O que parecia ser uma demissão, acabou se tornando no convite para fazer parte da comissão técnica do time principal. Em 2012, o brasileiro assumiu interinamente a competição e conseguiu o acesso da equipe para primeira divisão.

- Nós lideramos a primeira parte do campeonato com 10 pontos de diferença. Éramos líderes invictos. No recesso de inverno fomos para Antália e não nos reforçamos como os outros times. Caímos de rendimento, aí o treinador foi mandado embora. Assumi o time e banquei o lateral-esquerdo Eduard Sobol. Ele trabalhou comigo no sub-14 e logo quando eu assumi o profissional inclui o garoto na equipe com 15 anos e ninguém concordava com minha opção. Garanti e Sobol fez uns dos gols que nos deram o acesso - disse Gil, ao lembrar da história de Sobol que assinou o contrato no início desse ano com o Shakhtar Donestsk, quando tinha ainda 17 anos.

Além do título ele conseguiu muito mais conquistas. Gilmar fala inglês, espanhol, ucraniano e russo. Ele afirmar que se graduou na vida.

- Aprendi que um homem sem história é vazio de toda a sorte. Pode ter dinheiro, mas não vai ter a sua experiência. Existe algo em mim que eu não colecionei, que é a fortuna, mas eu tenho vivência, cultura e fiz amigos, isso aí não tem preço. Não adianta você querer comprar o meu conhecimento.